quinta-feira, 17 de maio de 2007

Ideologia:

Uma mentira, ainda que a digam milhares de bocas, não deixa de ser uma mentira. (Anatole France)

A alienação social se exprime numa "teoria" do conhecimento espontânea, formando o senso comum - conhecimento social reproduzido - da sociedade. Por seu intermédio, são imaginadas explicações e justificativas para a realidade tal como é diretamente percebida e vivida.

Um exemplo desse senso comum aparece no caso da explicação da "pobreza" em que o pobre é pobre por sua própria culpa ou por vontade divina ou por inferioridade natural. Esse senso comum social, na verdade, é o resultado de uma elaboração intelectual sobre a realidade, feita pelos pensadores ou intelectuais da sociedade - sacerdotes, filósofos, cientistas, professores, escritores, jornalistas, artistas - que descrevem e explicam o mundo a partir do ponto de vista da classe a que pertencem e que é a classe dominante de sua sociedade. Essa elaboração intelectual incorporada pelo senso comum social é a ideologia. Por meio dela, o ponto de vista, as opiniões e as idéias de uma das classes sociais - a dominante e dirigente - tornam-se o ponto de vista e a opinião de todas as classes e de toda sociedade.

A função principal da ideologia é ocultar e dissimular as divisões sociais e políticas, dar-lhes a aparência de indivisão e de diferenças naturais entre os seres humanos. Indivisão: Apesar da divisão social das classes, somos levados a crer que somos todos iguais porque participamos da idéia de "humanidade", ou da idéia de "nação" e "pátria", ou da idéia de "raça" etc. Diferenças naturais: somos levados a crer que as desigualdades sociais, econômicas e políticas não são produzidas pela divisão social das classes, mas por diferenças individuais dos talentos e das capacidades da inteligência, da força e de vontade maior ou menor etc.

A produção ideológica da ilusão social tem como finalidade fazer com que todas as classes sociais aceitem as condições em que vivem, julgando-as naturais, normais, corretas, justas, sem pretender transformá-las ou conhecê-las realmente, sem levar em conta que há uma contradição profunda entre as condições reais em que vivemos e as ideais.

Por exemplo, a ideologia afirma que somos todos cidadãos e, portanto, temos todos os mesmos direitos sociais, econômicos, políticos e culturais. No entanto, sabemos que isso não acontece de fato: as crianças de rua não têm direitos, os idosos não têm direitos; os direitos culturais das crianças nas escolas públicas é inferior aos das crianças que estão em escolas particulares, pois o ensino não é de mesma qualidade em ambas; os negros e índios são discriminados como inferiores, e os homossexuais são perseguidos como pervertidos.

A maioria, porém, acredita que o fato de ser eleitor, pagar as dívidas e contribuir com os impostos já nos faz cidadãos, sem considerar as condições concretas que fazem alguns serem mais cidadãos do que outros. A função da ideologia é impedir-nos de pensar nessas coisas. (Marilena Chauí)

Não se deixem enganar!
Ideologia? Não precisamos de uma para viver.





Por: Viviana M.

5 comentários:

nai disse...

Esta é uma das grandes preocupações que tenho. De uma forma abúlica, é passado para nós que ladrão, menino da favela que mata menino da classe média, que rouba é extremamente culpado e tem mais é que ficar preso com uns milhares em um lugar que não mais o cabe (éé, estilo um navio negreiro, uns 1654787 em um lugar que só cabe 100)ou então tem que mais é que morrer mesmo. Sem mais observar que aquele menino rouba, mata, não é porquê ele quer, mas sim porquê a sociedade (sendo mais direto, nós) proporciona à aquele indivíduo tal situação.
Provavelmente esses garotos nunca tiverem acesso à educação (de qualidade), à uma moradia adequada, alimentação digna e lazer (sim lazer, por que podemos sair pra curtir e eles não ?). São adolescentes que nem nós, oras. Possuem os mesmos anseios, as mesmas dúvidas, as mesmas vontades de mudar o mundo (ops, eles devem ter MUITO mais vontade de mudar o mundo deles do que nós). Mas não possuem, pobre no Brasil não tem vez, ainda mais se forem negros (que são na sua grande maioria), e ninguém se pergunta o motivo disso, ninguém ver, ninguém muda, ao invés disso só conseguem culpar e matar os mesmos.
Isso é ser cidadão ? Para mim isso tá mais pra egocentrismo social.

Anônimo disse...

Ideologia, eu quero uma prá vender!

Anônimo disse...

vivi! vc escreve muito bem! achei bem legal a ideia da tarja preta.
deixei o link aqui pra minha mae ver, e peço pra ela comentar. qualque coisa eu te passo o msn dela depois, se vc quiser conversar! :) até amanha?

T. disse...

Eu concordo com o texto...

É como se, de uma forma ou de outra, o sistema nos obrigasse a aceitar de qualquer maneira as condições que ele nos impõe para viver.

É justamente por pensarmos que não podermos fazer nada (por uma infinidade de motivos) que deixamos a situação chegar ao ponto que está. Os ricos fazem análise para conterem as suas revoltas; Os pobres fazem greves para expressá-las. Ou seja, cortamos a maçã de uma maneira tão bem cortada, que às vezes eu penso viver em dois países diferentes.

O problema não é a ideologia, mas sim a desculpa de que camadas sociais diferentes não podem interagir de uma forma produtiva.

É confuso, mas é por aí.

Jorge (Marraus) disse...

Marilena Chauí, que injúria!!!